Nel Brasile che si prepara a sorridere per i mondiali
L’assassinio – «come tanti» – di Claudia Silva Ferreira e un commento (di Alberto Chicayban)
Sulla newsletter di «Comune Info» è apparsa – con il titolo «100 volte nera» – questa notizia.
Sarebbe stato un assassinio come tanti, quello di Cláudia Silva Ferreira, addetta alle pulizie di un ospedale di Rio e madre di quattro figli, uccisa “per sbaglio” dalla polizia militare. Dietro la macchina degli agenti, invece, questa volta c’era un automobilista che non si è fatto gli affari suoi. Ha filmato l’orrore mostrando al mondo intero cosa può voler dire essere una donna nera e povera nel Brasile che si prepara a sorridere di fronte alle telecamere del mondiale di calcio. Adesso #TodasSomosClaudia è il più importante appello che abbiamo visto nel 2014
http://comune-info.net/2014/04/claudia-cento-volte-nera/
Sono rimasto impressionato e ho fatto girare la notizia fra amiche-amici (del Brasile e non). Questa è la risposta che mi ha inviato Alberto Chicayban; ovviamente la pubblico con la sua autorizzazione e con la speranza che si apra una discussione.
ciao Daniele,
ci sono due punti da chiarire in questa storia di vera sofferenza e di criminalità
istituzionale che ha determinato la fine dell’esistenza di Claudia Silva.
a) Il primo punto è la questione della violenza in Brasile. Quella non viene esercitata
esattamente contro le “persone nere e povere” – le vittime dell’endemica violenza
brasiliana sono, in verità, i poveri. Siccome una grande parte della popolazione povera dalle nostre parti possiede la pelle scura oppure ha delle caratteristiche somatiche afro, rimane l’impressione che siano i neri il bersaglio della violenza. La violenza urbana e rurale, nelle favelas oppure nei latifondi, si esercita contro i “non-proprietari” (possiamo chiamarli “incapienti”, secondo le nuove mode linguistiche italiane?). In una società come quella brasiliana, famosa per concentrazione della ricchezza in mano a pochi e per la grande quantità di terra di proprietà di poche famiglie (meno di 6% dei proprietari possiedono più di 83% delle terre fertili), un nulla tenente non ha “diritti di cittadinanza reali”. Le persone colpite da pallottole vaganti nelle sparatorie fra criminali e polizia oppure fra le bande armate durante le “guerre” per la conquista dei punti di vendita della cocaina, sono abitanti delle favelas in un percentuale oltre al 95%. Le pallottole vaganti non scelgono il colore della pelle del bersaglio. Ma anche i poveri a volte si organizzano per superare la condizione di abbandono: la favela sviluppa una struttura di “governo” e, spesso, crea le sue “forze armate” finanziate dalla cocaina. La polizia è a livello strategico-militare incapace
di affrontare il compito di bloccare quelle forze (qualsiasi polizia del mondo lo sarebbe) e i tentativi di renderla più feroce nel modello dei “testa di cuoio” o SAS la rende solamente uno strumento per la crescita della violenza. La soluzione della “polizia pacificatrice” (radicata nelle favelas e tesa a un lavoro sociale) ha avuto qualche risultato significativo a Rio de Janeiro e il successo ha indicato l’importanza fondamentale della presenza dello Stato per sradicare la violenza.
b) Tutte queste proteste rispetto l’investimento programmato dal governo brasiliano per l’idiozia dei mondiali di calcio, oltre l’onesto questionamento, nascondono anche un sistema per cercare di destabilizzare il governo di Dilma Roussef (esattamente come i tentativi di creare una “primavera” brasiliana con le proteste di strada organizzate da entità molto sospette di matrice nord americana). Perché? Il Brasile è diventato un modello scomodo, contrario all’orientamento politico-economico degli organismi “occidentali” e capace di ottenere ottimi risultati macroeconomici con indipendenza quasi totale. I governi di Lula e Dilma hanno portato il Brasile a una posizione invidiabile a livello strategico nel continente, sostituendo gli Usa nella leadership locale e bloccando diversi tentativi di imposizione di politiche delinquenziali nord americane come la creazione della famigerata Alca. Inoltre,
questi due ultimi governi brasiliani sono stati quelli che hanno fatto di più nella lotta contro la povertà. Con politiche sociali ed economiche abbastanza interessanti di sostegno a micro, piccola e media imprese, negli ultimi cinque anni hanno avuto il risultato di riscattare 25 milioni di persone dalla miseria assoluta. Nonostante gli errori commessi, Lula e Dilma hanno costruito un Brasile alternativo a quello eterno sottosviluppato desiderato dalle forze coloniali “occidentali”. Come mai la stampa europea non ha avuto niente da dire contro le spese astronomiche dei governi della dittatura militare (la ferraglia costosissima dei vostri F-35 è niente se paragonata con quello che hanno speso da noi i generali criminali voluti dagli Usa)?
Buona giornata, Alberto
L’assassinio di ClaudIa Silva Ferreira è avvenuto il 16 marzo. Se ne è parlato molto, ci sono state prese di posizioni importanti e manifestazioni. Inoltre non è stato l’unico caso, non solo nel passato, ma anche negli ultimi tempi. Quello che sta accadendo ora sono forti movimenti di opposizione alla militarizzazione delle favelas, innanzitutto in quelle di Rio.
Un articolo apparso su Carta Maior del 20 marzo scorso firmato da Fabio Nassif + 4 significativi commenti.
A violência estatal que nos arrasta pelo asfalto
É inadmíssível para as elites do país que a “ordem” que lhes assegura no poder seja sustentada por um grau altíssimo de violência estatal cotidiana.
Cláudia Ferreira da Silva foi assassinada por agentes de segurança pública. Moradora do Morro da Congonha, em Madureira (subúrbio do Rio de Janeiro), mãe de 4 filhos, negra, Cláudia havia saído pra comprar pão. Era domingo. Foi atingida por dois tiros, um no peito, outro na cabeça. Os policiais a jogaram no porta-malas da viatura e durante o trajeto seu corpo caiu no asfalto. Pelo relato de sua filha, Thaís, Cláudia ainda estava consciente quando foi arremessada no carro da polícia. Ela foi arrastada por pelo menos 350 metros e morreu. A cena foi gravada e divulgada na internet.
O roteiro que se segue diante de fatos como esse é o mesmo: os policiais afirmam que ela tinha ligações com o tráfico de drogas, que houve troca de tiros e que tentaram socorrê-la; o comando da Polícia Militar afasta os soldados envolvidos; o governo estadual promete apuração rigorosa do caso; a presidenta da República se diz chocada; a grande mídia explora o caso e se diz sensibilizada.
Todos esses protagonistas alimentam a mesma tese de que a morte de Cláudia se trata de uma exceção, um acidente, um erro de percurso, um incidente chocante e infeliz.
Os moradores da comunidade de Cláudia protestam. Mas para as elites do país é inadmíssível que a “ordem” que lhes assegura no poder seja sustentada por um grau altíssimo de violência estatal cotidiana. É considerada uma ameaça ao seu “Estado democrático de direito”, a percepção generalizada, por parte da população, de que o assassinato de negros pobres das periferias são regra básica e fundamental da nossa democradura.
Exagero? Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2013, as polícias matam cinco pessoas por dia no Brasil. Duas em cada três pessoas mortas pela polícia são negras.
É tão incompreensível que tantos ônibus estejam sendo incendiados por aí?
A mídia cuida de somar a quantidade deles. Convocam “especialistas” em segurança para analisar os protestos violentos. Fazem o cálculo do prejuízo financeiro de tais depredações. E a narrativa se encerra no problema do trânsito causado pelos atos de revolta.
Ignoram, hipócrita e propositalmente, o grito da população oprimida que quer passar um único recado: os assassinatos praticados por policiais são a regra no estado de exceção que existe nas periferias.
Mais do que uma análise acadêmica sobre as características do atual regime político brasileiro, a verdade irrefutável é que o aprofundamento da militarização do sistema de segurança do país faz deste estado um dos mais violentos do mundo.
O ano de 2014 já está marcado por um nível de conflitividade social ímpar. Como lidar com uma população que tem deixado de aceitar o cotidiano massacrante que garante o poder confortante de uma minoria? Até agora o que se sabe é que o país se prepara, com leis e armas, para garantir a realização da Copa do Mundo da Fifa e, muito mais do que isso, para retomar a “estabilidade” necessária para a realização das eleições.
Ainda mais neste ano em que descomemoramos o golpe militar de 64, não é possível admitir a defesa da “democracia” e ao mesmo tempo a manutenção da militarização da segurança pública. Não tem sentido lógico nem político defender um modelo de ocupação territorial ostensivo e militarizado de favelas – ironicamente chamado de pacificação – e se dizer em choque com as mortes praticadas pelas forças públicas de segurança.
Nem mesmo o forte slogan da “guerra às drogas” – que justifica até hoje os crimes cometidos pelo Estado – têm conseguido esconder o fato de se tratar de uma guerra aos pobres.
Enquanto os problemas de fundo do país não forem encarados em um nível político superior e com uma agenda de enfrentamento à lógica do Capital, nossa história, incapaz de se livrar da dependência da violência estatal, continuará sendo arrastada dolorosamente pelo asfalto.
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Fábio Nassif é jornalista da Carta Maior.
4 Comentários Insira o seu Comentário !
Fernando Lebkuchen – 20/03/2014
Esses PMs que assassinaram esta senhora e tentaram sumir com o seu corpo tem uma longa ficha de mortes nas costas fazendo inveja a muito bandidão da pesada. E estão soltos e trabalhando. Quem tem uma polícia como a PM no Brasil não precisa de bandidos, o estado já se ocupou em criá-los. Sinceramente, este país ainda tem jeito?
Bruno Maricato Villela – 20/03/2014
A policia violenta é o braço armado da classe que manda no país. Essa mesma classe faz a corrupção prosperar, pois a justiça não é para eles, eles são donos do capital e da opinião publica. Aparecem todo dia nas colunas sociais, nas revistas de negócios, na caras e se disfarçam de “cidadãos de bem”, e fazem um discurso de que são honestos, trabalhadores e que enriqueceram por mérito próprio, como se não estivessem vivendo em sociedade. Eu não estou falando de politico não, eu estou falando dos empresários, dos banqueiros, dos juízes, advogados. O homem BRANCO que ama sua família e preserva a moral e os bons costumes, mas não abre mão de sua arma e de frequentar um puteiro, ter uma manteúda. Ainda estamos sob o efeito criado a mais de trinta anos atrás quando a policia recebeu carta branca para torturar, omitir, roubar.
Salatiel Sailva – 20/03/2014
Excelente análise. De minha parte, na condição de professor, tenho dito incessantemente que desde muitos anos, o que está em curso é um projeto de nação que obedece, a rigor, a sumula papal da época das grandes navegações, nos idos de 1500. São os inimigos da cruz….. A cruz de hoje atende pelo pseudônimo capitalismo, azeite que lubrifica as engrenagens das elites em geral. Resguardando as devidas proporções, a polícia é isso……
Fernando Lebkuchen – 20/03/2014
Esses PMs que assassinaram esta senhora e tentaram sumir com o seu corpo tem uma longa ficha de mortes nas costas fazendo inveja a muito bandidão da pesada. E estão soltos e trabalhando. Quem tem uma polícia como a PM no Brasil não precisa de bandidos, o estado já se ocupou em criá-los. Sinceramente, este país ainda tem jeito?